Ícone grego
São Pantaleão, associado aos santos médicos orientais, teve o auge de seu culto na Idade Média, e está associado aos 14 Santos Auxiliares (S. Acácio, S. Bárbara, S. Brás, S. Ciríaco, S. Cristóvão, S. Dionísio, S. Egídio, S. Erasmo, S. Eustáquio, S. Jorge, S. Margarida e S. Vito). Com Cosme e Damião divide o epíteto de anargiro, (literalmente do grego sem prata), ou seja, médico que trabalhou de forma voluntária, sem receber nenhum tipo de honorário por seu trabalho. Seu culto é amplamente difundido no Oriente (Ásia Menor, Grécia e Rússia), onde é chamado Pantaleimone, todo misericordioso, e no Ocidente, (Itália, França, Alemanha e Espanha) onde muitas igrejas e mosteiros são a ele devotados.
A narração de sua vida chegou até nós através de poucas notícias históricas, principalmente através de sua Passio que, junto dos calendários e locais de culto, documentam a existência de relíquias e do local de seu martírio. Nasceu em Nicomédia, na atual Turquia, cresceu em ambiente religioso misto, filho de pai pagão e mãe cristã, formou-se culturalmente na arte da medicina. O encontro com o grande sacerdote Ermolau aproximou-o do Cristianismo, conseguindo converteu não somente seu pai, mas a operar milagres e a sofrer a perseguição conduzido aos cristãos no reinado de Maximiano.
A Passio de Pantaleão foi escrita em grego, muitas vezes traduzida para o latim, e é difícil estabelecer com precisão a data da sua composição. Estudiosos atribuem a obra a Simone Metafraste, que entre os anos 961-964 recolheu e escreveu notas sobre a vida dos mártires. Embora a obra não tenha o peso de uma tradição histórica documentada, não pode se dizer que não tenha nenhum peso, pois confirma claramente o local e a data do martírio: Nicomédia, 27 de julho.
Imagem venerada na cidade de Buenos Aires
A Passio conta que o mártir foi amarrado a um cavalete e que seus membros, primeiramente, foram estirados. Em seguida, foi queimado com tochas, e que no ápice de seu sofrimento, Cristo lhe apareceu nas vestes de Ermolau e o libertou milagrosamente. Num segundo momento de tortura, Cristo apareceu novamente e liberou-o de um caldeirão de chumbo fervente onde o haviam mergulhado. Tendo resistido a duas tentativas, jogaram o santo nas águas do mar com uma grande pedra amarrada ao seu pescoço. Foi libertado por anjos que, milagrosamente desamarraram a pedra e o levaram a salvo para uma praia. Foi então jogado às feras nas arenas do Circo, e mais uma vez Cristo apareceu e as feras se amansaram. Preparou-se, então, uma grande roda e o santo foi atirado do alto da colina onde se situava o palácio imperial e o tribunal, mas o suplício não o levou à morte. O Imperador quis saber, então, quem o tinha educado na fé cristã, e tendo sabido ser obra de Ermolau, chamou o sacerdote à sua presença. Naquele momento, um terremoto fez tremer a colina, Pantaleão vaticinou a queda dos ídolos pagãos e a vitória do Cristianismo naquelas terras. “E isso realmente aconteceu”.
O sangue de São Pantaleão, conservado na igreja homônima na cidade de Ravello, na Costa Amalfitana, sul da Itália, se liquefaz, do mesmo modo como aquele de São Gennaro, e o milagre ocorre exatamente no dia da festa do santo, 27 de julho. O evento foi documentado pela primeira vez em 1577: “O sangue do glorioso mártir, conservado numa grande ampola de vidro encerrada numa custódia de prata, milagrosamente se liquefez nas primeiras vésperas da festa e permaneceu assim por todas as oitavas, até o ocaso do dia seguinte”, relata um documento. Diversos os testemunhos que se seguiram, dentre os quais, o do Arcebispo de Amalfi, Monsenhor Ercolano Marini, datada de 1918 e do capitão escocês Jan Grant, escrita de próprio punho em julho de 1924, após uma atenta observação começada no mês de maio, seguida dia a dia, até a completa liquefação do sangue.
Busto e relicário com sangue - Ravello, Itália
Todos os anos milhares de madrilenos acorrem no dia 26 de Julho à igreja da Encarnação para venerar o prodígio da liquefação do sangue de São Pantaleão, e, como é habitual, surge a mesma incógnita: se produzirá de novo?
Se não acontecer, é sinal de mau agouro e de próximos acontecimentos funestos para Madrid e até para o Mundo. Por volta das quatro horas da tarde, com a igreja cheia de gente para observar o fenômeno, o relicário que supostamente encerra o sangue de São Pantaleão numa ampola, sofre uma metamorfose inexplicável: durante 48 horas a substância, que ao longo do ano pode ver-se com uma cor vermelha e completamente seca, começa a converter-se, pouco a pouco, num líquido de tonalidade brilhante. Assim permanece até o dia seguinte, 27 de Julho, dedicado a São Pantaleão, quando o sangue volta a secar.
Ampola com o sangue do santo em Madrid
As freiras agostinhas recoletas do Real Convento da Encarnação, são quem anunciam o início do fenômeno e a sua conclusão, para gáudio de toda a Madrid e do Mundo assim poupados de próximas calamidades, crença propagada pelas mesmas religiosas que afirmam ser esse milagre “um presente de Deus”. A fama do sangue miraculoso de São Pantaleão aumentou na Península Ibérica no século XVII, quando em 1611 Mariana de San José, filha do vice-rei Juan de Zuniga, fundou o Real Mosteiro da Encarnação trazendo para aqui a relíquia do sangue deste santo. As suas curas milagrosas e as transformações do estado sólido a líquido e vice-versa, levaram as autoridades eclesiásticas a intervirem ante o auge dos sucessos portentosos, e nunca o Santo Ofício conseguiu concluir se a origem desses acontecimentos sobrenaturais era celestial ou diabólica.
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