sábado, 31 de dezembro de 2011

31 de Dezembro - São Silvestre (Papa)




Este Papa dos inícios da nossa Igreja era um homem piedoso e santo, mas de personalidade pouco marcada. São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo se terá antes servido dele, da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é, igual aos apóstolos.
E na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos,com inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder espiritual diferente e acima do civil ou político. 
E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.

Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua. 
Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois presbíteros.
Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas, reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer demasiado submisso ao Imperador. 
Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por S. Silvestre. 
Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla, a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.
Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de S. Silvestre, a Domus Faustae, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão (residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a S. João Batista e S. João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, S. João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade. 
Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e transformações profundas na vida da Igreja, morre S. Silvestre I no último dia do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I (757-767) para a igreja erguida em sua memória.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

29 de Dezembro - São Tomás Becket (Bispo)



Tomás Becket nasceu no dia 21 de dezembro de 1118, em Londres. Era filho de pai normando e cresceu na corte ao lado do herdeiro do trono, Henrique. Era um dos jovens cortesãos da comitiva do futuro rei da Inglaterra, um dos amigos íntimos que Henrique mais tinha afinidade. Era ambicioso, audacioso, gostava das diversões com belas mulheres, das caçadas e das disputas perigosas. Compartilharam os belos anos da adolescência e da juventude antes que as responsabilidades da coroa os afastassem. 

Quando foi corado Henrique II, a amizade teve uma certa continuidade, porque o rei nomeou Tomás seu Chanceler. Mas, num dado momento ele voltou seus interesses para a vida religiosa. Passou a se dedicar ao estudo da doutrina cristã e acabou se tornando amigo do Arcebispo de Canterbury, Teobaldo. Tomás através de sua orientação foi se entregando à fé de tal modo que deixou de ser o Chanceler do rei, para ser nomeado Arcediácono do religioso. Quando o Arcebispo Teobaldo morreu e o Papa concedeu o privilégio ao rei escolher e nomear o sucessor. Henrique II não vacilou em colocar no cargo o amigo.
Mas o rei não sabia que o antigo amigo se tornara de fato, um fervoroso pastor de almas para Senhor e ferrenho defensor dos direitos da Igreja de Roma. Tomás foi ordenado sacerdote em 1162, no dia seguinte consagrado Arcebispo de Canterbury. Não demorou muito para se indispor imediatamente com o rei. Negou-se a reconhecer as novas leis das "Constituições de Clarendon", que permitiam direitos abusivos ao soberano, e teve que fugir para a França para escapar de sua ira. 

Ficou no exílio por seis anos, até que o Papa Alexandre III conseguiu uma paz formal entre os dois. Assim, Tomás pode voltar a diocese de Canterbury para reassumir seu cargo. Foi aclamado pelos fiéis que o respeitavam e amavam sua integridade de homem e pastor do Senhor. Mas ele sabia o que lhe esperava e disse a todos: "Voltei para morrer no meio de vós". A sua primeira atitude foi logo destituir os Bispos que haviam compactuado com o rei, isto é, aceitado as leis por ele repudiadas. Naquele momento também a paz conseguida com tanta dificuldade acabava. 
O rei ficou sabendo e imediatamente pediu que alguém tirasse Tomás do seu caminho. O Arcebispo foi até avisado de que o rei mandaria matá-lo, mas não quis fugir novamente. Mas apenas respondeu com a frase que ficou registra nos anais da História: "O medo da morte não deve fazer-nos perder de vista a justiça". Encheu-se de coragem e vestido com os paramentos sagrados recebeu os quatro cavaleiros que foram assassina-lo. Deixou-se apunhalar sem opor resistência. Era o dia 29 de dezembro de 1170. O próprio Papa Alexandre III canonizou Santo Tomás Becket três anos depois do seu testemunho de fé em Cristo. A sua memória é homenageada com festa litúrgica no dia de sua morte.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

28 de Dezembro - Santos Inocentes de Belém




Esta festa encontra o seu fundamento nas Sagradas Escrituras. Quando os Magos chegaram a Belém, guiados por uma estrela misteriosa, "encontraram o Menino com Maria e, prostrando-se, adoraram-No e, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes - ouro, incenso e mirra. E, tendo recebido aviso em sonhos para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para a sua terra. Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: 'Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para o matar'. E ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e sua mãe, e retirou-se para o Egito. E lá esteve até à morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta, que disse: 'Do Egito chamarei o meu filho'. Então Herodes, vendo que tinha sido enganado pelos Magos, irou-se em extremo e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e arredores, de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos. Então se cumpriu o que estava predito pelo profeta Jeremias: 'Uma voz se ouviu em Ramá, grandes prantos e lamentações: Raquel chorando os seus filhos, sem admitir consolação, porque já não existem'" (Mt 2,11-20) Quanto ao número de assassinados, os Gregos e o jesuíta Salmerón (1612) diziam ter sido 14.000; os Sírios 64.000; o martirológio de Haguenau (Baixo Reno) 144.000. 

Calcula-se hoje que terão sido cerca de vinte ao todo. Foram muitas as Igrejas que pretenderam possuir relíquias deles.
Na Idade Média, nos bispados que possuíam escola de meninos de coro, a festa dos Inocentes ficou sendo a destes. Começava nas vésperas de 27 de dezembro e acabava no dia seguinte. Tendo escolhido entre si um "bispo", estes cantorzinhos apoderavam-se das estolas dos cônegos e cantavam em vez deles. A este bispo improvisado competia presidir aos ofícios, entoar o Inviatório e o Te Deum e desempenhar outras funções que a liturgia reserva aos prelados maiores. Só lhes era retirado o báculo pastoral ao entoar-se o versículo do Magnificat: Derrubou os poderosos do trono, no fim das segundas vésperas. Depois, o "derrubado" oferecia um banquete aos colegas, a expensas do cabido, e voltava com eles para os seus bancos. Esta extravagante cerimônia também esteve em uso em Portugal, principalmente nas comunidades religiosas.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

27 de Dezembro - São João Evangelista (Apóstolo)




Um dos 12 apóstolos de Cristo e nascido em Batsaida, na Galiléia, autor do quarto evangelho e conhecido como o discípulo que Jesus amava foi o único apóstolo que acompanhou Cristo até a morte na cruz, ao lado de Nossa Senhora, ocasião em que lhe foi confiada a tarefa de cuidar de Maria, a mãe de Jesus. Pescador e filho do também pescador Zebedeu e de Salomé, uma das mulheres que auxiliavam os discípulos de Jesus, juntamente com o irmão mais velho, Tiago o Maior, foi convidado a seguir Jesus, logo depois de Pedro e André. Um dos mais jovens apóstolos de Cristo, ele e seu irmão, juntamente com Pedro e André, foram os discípulos privilegiados e participaram do círculo mais íntimo junto a Jesus. Presenciaram a ressurreição da filha de Jairo, a transfiguração de Jesus na montanha e sua angústia no Getsêmani. 

Os dois foram os únicos apóstolos que ousaram pedir a Cristo que lhes fosse dado sentar um à direita, outro à esquerda. Da resposta de Jesus "do cálice que eu beber, vós bebereis" deriva a suposição de que os dois se distinguiriam dos demais pelo martírio. Esteve em Jerusalém (37) e depois por ocasião do Concílio dos Apóstolos, que se realizou em Antióquia. Após as perseguições sofridas em Jerusalém, transferiu-se com Pedro para a Samaria, onde desenvolveu uma intensa evangelização (8,14-15). Mudou-se para Éfeso (67), onde viveu o resto de sua vida, morreu e foi sepultado. A partir dessa cidade, dirigiu muitas Igrejas da província da Ásia e também ali escreveu (80-100) o Quarto Evangelho, o último dos Evangelhos canônicos, e as Epístolas, três cartas aos cristãos em geral. 

De acordo com os Atos dos Apóstolos, quando acompanhou Pedro na catequese dos Samaritanos, com ele foi convencido por Paulo a desistir da imposição de práticas judaicas aos neófitos cristãos. Durante o governo de Domiciano (81-96), foi exilado (93-97) na ilha de Patmos, no mar Egeu, onde escreveu o Livro do Apocalipse ou Revelação, que é o derradeiro livro da Bíblia, onde narrou as suas visões e descreveu mistérios, predizendo as tribulações da Igreja e o seu triunfo final. O seu evangelho difere dos outros três que são chamados sinóticos ou semelhantes, pois a sua narrativa enfoca mais o aspecto espiritual de Jesus, ou seja, a vida e a obra do Mestre com base no mistério da encarnação: o verbo feito carne e veio dar a vida aos homens. É o homem da elevação espiritual, mais inclinado à contemplação que à ação. De acordo com Clemente de Alexandria, ordenou bispos em Éfesos e outras províncias da Ásia Menor. 

Irineu afirmou que os Bispos Polycarpo e Papias foram seus discípulos. Os primeiros fragmentos dos escritos Joanitas foram encontrados em papiros no Egito datando de princípios do segundo século, e muitas escolas acreditam que ele tenha visitado estas áreas. Aparece representado por Michelângelo na cúpula da Basílica São Pedro, em Roma, pela imagem da águia. 
El Greco - 1600
Museu do Prado

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

26 de Dezembro - Santo Estevão (Protomártir)



Na história do catolicismo muitos foram os que pereceram, e ainda perecem, pagando com a própria vida a escolha de abraçar a fé cristã. Essa perseguição mortal, que durou séculos, teve início logo após a Ressurreição de Jesus. O primeiro que derramou seu sangue por causa de sua fé cristã foi Estevão, considerado por isso o "protomártir". 
Vividos os eventos da Paixão e Ressurreição, os doze Apóstolos passaram a pregar o Evangelho de Cristo para os hebreus. A inimizade que estava apenas abrandada reavivou, dando início às perseguições mortais aos seguidores do Messias. Mas, com extrema dificuldade a eles fundaram a primeira comunidade cristã, que conseguiu se estabelecer como um exemplo vivo da mensagem de Jesus, o amor ao próximo. 
Assim, dentro da comunidade tudo era de todos, tudo era repartido com todos, todos tinham os mesmos direitos e deveres. Conforme a comunidade se expandia, aumentavam também as necessidades, de alimentação e de assistência. Assim, os Apóstolos escolheram sete para formarem como "ministros da caridade", chamados diáconos. Eram eles que administravam dos bens comuns, recolhiam e distribuíam os alimentos para todos da comunidade. Um dos sete era Estevão, escolhido porque era "cheio de fé e do Espírito Santo". 
Giotto - 1325

Porém, segundo os registros, Estevão não se limitava ao trabalho social de que fora incumbido. Não perdia a chance de divulgar e pregar a Palavra de Cristo, e o fazia com tanto fervor e zelo, que chamou a atenção dos judeus. Pego de surpresa foi preso e conduzido diante do sinédrio, onde falsos testemunhos, calúnias e mentiras foram a base de sustentação para a acusação. As testemunhas informaram que Estevão dizia que Jesus de Nazaré prometera destruiria o Templo sagrado e que também queria modificar as Leis de Deus transmitidas a Moisés. 
Num discurso iluminado, Estevão repassou toda a história hebraica, de Abraão até Salomão, e provou que não blasfemara contra Deus, nem contra Moisés, nem contra a Lei e nem contra o Templo. Teria convencido e sairia livre. Mas, não, seguiu avante com seu discurso e começou a pregar a Palavra de Jesus. Os acusadores irados o levaram aos gritos para fora da cidade e o apedrejaram até a morte. 
Martírio de Santo Estevão
gravura do séc. XVIII

Antes de tombar morto, Estevão repetiu as palavras de Jesus no Calvário, pedindo a Deus perdão para seus agressores. Fazia parte desse grupo de judeus um homem que mais tarde se soube ser o Apóstolo Paulo, na época ainda não estava convertido. O testemunho de Santo Estevão não gera dúvidas porque sua documentação é histórica, encontra-se num livro canônico, Atos dos Apóstolos, fazendo parte das Sagradas Escrituras. 
Rodolfo Bernardelli
Pinacoteca do Estado de São Paulo

Por tudo isso, quando suas relíquias foram encontradas em 415, causaram forte comoção nos fiéis, dando início a um fervoroso culto de toda a cristandade. A festa de Santo Estevão é celebrada sempre no dia seguinte ao da festa do Natal de Jesus, justamente para marcar a sua importância de primeiro mártir de Cristo e um dos sete escolhidos dos Apóstolos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

25 de Dezembro - Natividade do Senhor

Adoração dos Pastores
Domenico Ghirlandaio

Giovanni Battista Foggini - 1675
Hermitage - São Petersburgo

Natividade Mística
Sandro Botticelli - 1500
National Gallery - Londres

Presépio napolitano - séc. XVIII

"E o verbo se fez carne e habitou entre nós"

sábado, 24 de dezembro de 2011

24 de Dezembro - Santa Tarsila



A família romana Anícia teve a graça de enviar para a Igreja aquele que foi um dos grandes doutores da Igreja do Ocidente, o Papa Gregório Mágno, depois também Santo. Era um homem de estatura pequena e de saúde frágil, mas um gigante na administração e uma fortaleza espiritual. Entre seus antepassados paternos estão o imperador Olívio, o Papa e Santo Félix III e o senador Jordão, que era seu pai. 
A formação intelectual, religiosa e moral do menino Gregório ficou sob a orientação e cuidado de sua mãe, a futura Santa Sílvia e de suas tias: Tarsila, Emiliana, também Santas, e de Jordana, irmãs de seu pai, que logo faleceu. Tarsila e Emiliana eram muito unidas, além do parentesco, pelo fervor da fé em Cristo e pela caridade. As três viviam juntas na casa herdada do pai, no Monte Célio, como se estivessem num mosteiro. Tarsila era a guia de todas, orientando pela Palavra do Evangelho e pelo exemplo da caridade e da castidade. Dessa maneira os progressos na vida espiritual foram grandes. Depois, Jordana decidiu seguir a vida matrimonial, casando-se com um bom cristão, o administrador dos bens da sua família. 
Tarsila permaneceu com a opção de vida religiosa que havia escolhido. Sempre feliz, na paz do seu retiro e na entrega de seu amor a Deus, até que foi ao Seu encontro na glória de Cristo. Santo Gregório relatou que a tia Tarsila tivera uma visão de seu bisavô, o Papa Santo Félix III, o lhe teria mostrado o lugar que ocuparia no céu, com essas palavras: "Vem, que eu haverei de te receber nestas moradas de Luz". 
Após essa experiência, Tarsila ficou gravemente enferma. No seu leito de morte, ao lado da irmã Emiliana e dos parentes, pediu para que todos se afastassem dizendo: "Está chegado Jesus, meu Salvador!". Com estas palavras e sorrindo entregou sua alma a Deus. Ao ser preparada para o sepultamento, encontraram calos, duros e grossos, em seus joelhos e cotovelos, causados pelas contínuas penitências. Durante as orações, que duravam muitas horas, rezava ajoelhada e apoiada, diante de Jesus Crucificado. 
Poucos dias depois de morrer, Tarsila apareceu em sonho para sua irmã Emiliana e a convidou para celebrarem juntas a festa da Epifania no céu. E foi isso que aconteceu, Emiliana acabou morrendo na véspera do dia dos Reis. O culto a Santa Tarsila, mesmo não sendo acompanhado de fatos prodigiosos, se manteve discreto e persistente ao longo do tempo. Talvez pelo enriquecimento dos exemplos singulares narrados pelo sobrinho, Papa Santo Gregório Magno, o qual, entretanto nunca citou o ano do seu falecimento no século VI. A Igreja Católica estabeleceu o dia 24 de dezembro para as homenagens litúrgicas de Santa Tarsila, data transmitida pela tradição dos seus fiéis devotos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

23 de Dezembro - Santo Antonio de Santana Galvão (Franciscano)

anônimo - 1850



Nascido em Guaratinguetá, em 1739, de uma família de muitas posses, descendia dos primeiros povoadores da Capitania e corria em suas veias sangue de bandeirantes. Renunciou a uma brilhante situação no mundo e ingressou na Ordem franciscana. Fundou, em 1774, juntamente com Madre Helena Maria do Espírito, o Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, na capital paulista. Não somente formou e conduziu espiritualmente as religiosas desse mosteiro, mas também o edificou materialmente, ao longo de  48 anos de esforços contínuos.
Foi o arquiteto, o engenheiro, o mestre de obras e muitas vezes o operário da sua edificação, que somente se tornou possível porque ele incansavelmente pedia, ao povo fiel, esmolas para a magnífica construção. Sacerdote procurado e estimado por todos, era chamado "Homem da Paz e da Caridade". Entregou sua alma a Deus em 1822. Foi beatificado em 1998. Até hoje sua sepultura, na capela do mosteiro, é visitada por multidões que acorrem a lhe pedir graças e milagres, e também à procura das famosas e prodigiosas "pílulas de Frei Galvão". 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

22 de Dezembro - Santa Francisca Xavier Cabrini (Fundadora)




Nasceu em 15 de julho de 1850 Lombardia, Itália. Filha do fazendeiro Agostino Cabrini e sua esposa Stella. Diz a lenda que no dia que nasceu, um bando de pombos brancos sobrevoou a sua casa. Quem a conheceu dizia que tinha pequena estatura e grande espírito. Recebeu uma educação no convento de Arluno e foi treinada para ser uma professora. Sua mãe rezava por uma hora antes de ir para a missa e ela seguia seu exemplo, e às vezes se refugiava num local onde sozinha, podia orar tranqüila.
Tentou entrar para a Ordem com 18 anos, mas sua saúde impediu que recebesse o véu. O padre Don Serati pediu a ela que ensinasse em uma escola de meninas, "A Casa da Providência", um orfanato em Cadagono, Itália e ela lá ensinou por seis anos. Tomou os votos religiosos em 1877 e fazia tão bem seu trabalho que, quando o orfanato fechou em 1880, o Bispo de Todi pediu a ela que fundasse a Ordem das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus para cuidar das crianças pobres nas escolas e em hospitais. Diz a tradição que elas não tinham dinheiro para prover o que era necessário para as crianças, mas sempre que Francisca enviava uma das irmãs para buscar leite o pote estava sempre cheio, e se era para buscar pão o cesto de pão estava também cheio. Milagrosamente não faltava comida para as crianças. No mesmo ano ela abriu uma casa para moças e no ano seguinte abriu outra casa em Milão. Em 1887 foi a Roma para conseguir a aprovação das Regras da Ordem e permissão para abrir outra casa em Roma e conseguiu a aprovação para abrir duas casas: uma escola para crianças pobres e um orfanato, e ainda conseguiu a aprovação da Constituição da Ordem em 1888. Como havia um grande número de emigrantes italianos em Nova York o Arcebispo Corrigan enviou um convite formal a ela para ir para a América, e logo depois o Papa Leão XIII deu a sua permissão e benção para que ela fosse para os Estados Unidos.
Ela e seis outras freiras chegaram em Nova York em 1889. Elas trabalharam com os emigrantes, especialmente italianos. Ela fundou 67 instituições incluindo escolas, hospitais e orfanatos na América, Chile, Venezuela, Brasil e Argentina.

Quando ela morreu, a Ordem tinha 4.000 freiras. Ao longo de sua vida ela se naturalizou cidadã americana e assim é a primeira cidadã americana a ser canonizada.
Ela faleceu de malária em 22 de dezembro de 1917 em Chicago, Illinois, USA. Foi enterrada na Capela do Colégio Madre Cabrini em Nova York. Foi canonizada em 7 de julho de 1946 pelo Papa Pio XII
É a padroeira dos emigrantes, administradores de hospitais e órfãos.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

21 de Dezembro - São Pedro Canisio (Doutor da Igreja)


Este santo, chamado "o segundo evangelizador da Alemanha" e de “martelo dos hereges”, é venerado como um dos criadores da imprensa católica e foi o primeiro do numeroso exército de escritores jesuítas.
Nasceu em Nimega, Holanda em 1521. Aos 19 anos, conseguiu a licenciatura em teologia, e para agradar a seu pai se dedicou a especializar-se em direito. Entretanto, depois de realizar alguns Exercícios Espirituais com o Padre Favro, que era companheiro de Santo Inácio, entusiasmou-se pela vida religiosa, fez votos ou juramento de permanecer sempre casto, e prometeu a Deus fazer-se jesuíta.
Foi admitido na comunidade e os primeiros anos de religioso passaram-se em Colônia, Alemanha, dedicado à oração, ao estudo, a meditação e a ajuda aos pobres. Foi muito caridoso e amável com as pessoas que lhe discutiam, mas tremendo e incisivo contra os enganos dos protestantes.
São Pedro Canisio tinha uma especial qualidade para resumir os ensinos dos grandes teólogos e apresentar as de maneira singela para que o povo pudesse entender. Conseguiu redigir dois Catecismos, a gente resumido e outro explicado. Estes dois livros foram traduzidos a 24 idiomas e na Alemanha se propagaram por centenas e milhares.
Nos trinta anos de seu incansável trabalho de missionário percorreu trinta mil quilômetros pela Alemanha, Áustria, Holanda e Itália. Parecia incansável, e a quem lhe recomendava descansar um pouco lhe respondia: "Descansaremos no céu".
Por muitas cidades da Alemanha foi fundando colégios católicos para formar religiosamente aos alunos. Além disso, ajudou a fundar numerosos seminários para a formação dos futuros sacerdotes. Alemanha, depois de São Pedro Canisio, era mais católico. São Pedro Canisio se deu conta do imenso bem que fazem as boas leituras. propôs-se formar uma associação de escritores católicos.

Estando em Friburgo em 21 de dezembro de 1597, depois de ter rezado o santo Rosário, exclamou cheio de alegria e emoção: "Olhem-na, aí esta. Aí está". E morreu. A Virgem Santíssima tinha vindo para levar-lhe ao céu. O Sumo Pontífice Pio XI, depois de canonizá-lo, declarou-o Doutor da Igreja, em 1925.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

19 de Dezembro - Santa Fausta (Mártir)




Em Cízico, na Propôntides (Ásia Menor), o natal dos santos mártires Fausta, virgem, e Evilásio, sob o imperador Maximiliano. Fausta foi suspensa e atormentada pelo próprio Evilásio, sacerdote dos ídolos, tendo sido despojada dos cabelos e raspada por humilhação. Em seguida querendo serrá-la pelo meio e não conseguindo os algozes ofendê-la, Evilásio, surpreso com isso, converteu-se a Cristo; e enquanto ele, por ordem do imperador era duramente atormentado, Fausta ferida na cabeça, traspassada com pregos por todo o corpo e colocada num tacho ardente, finalmente, junto com Evilásio, chamada por uma voz celeste, passou ao Senhor."
Assim o Martirológio Romano fixa a memória da santa de hoje. Como acontece frequentemente, estas informações foram tiradas exclusivamente das Atas, ou melhor de uma Paixão, à qual os historiadores atuais atribuem um valor quase nulo, sobretudo por algumas extravagâncias. Por outro lado a narração não ficou isenta de correções e variantes mais ou menos contemporâneas o documento foi utilizado também pelo célebre historiador são Beda o venerável no seu Martirológio, onde se leem mais ou menos as mesmas notícias já referidas. É interessante até como ele tenha acolhido juntamente duas variantes. O primeiro suplício de santa Fausta, "despojada dos cabelos e raspada por humilhação", foi ampliado por ele, sintetizando dois documentos diferentes, um dos quais atestava somente que a mártir tinha sido "despojada dos cabelos." Este suplício era evidentemente um dos números preferidos pelos verdugos, pois é recordado também no caso de outras santas virgens mártires, e o mesmo se diga da tentativa (fracassada no caso de Fausta) de serrar pelo meio, "como se fosse um pedaço de madeira," acrescenta Beda.
As próprias Atas, lembrando o suplício dos pregos, dizem com certa gozação que o corpo de Fausta, todo pregado, ficou parecido com "a sola de uma bota." A mártir de Cízico consumou o seu máximo Sacrifício somente quando a chamou "uma voz celeste." As relíquias de Fausta de Cízico foram objeto de uma dupla transladação: na metade do século VI para Narni e depois no século IX para Luca. Em Narni, de fato, o bispo de 537 a 558, são Cássio edificou um sepulcro para sua queridíssima esposa falecida também de nome Fausta. Posteriormente quis enriquecê-lo com as relíquias da santa homônima de Cízico. Começou assim a veneração de uma santa Fausta de Narni.

domingo, 18 de dezembro de 2011

18 de Dezembro - Nossa Senhora da Expectação ou do Ó



Festa católica de origem claramente espanhola, a festa de hoje é conhecida na liturgia com o nome de "Expectação do parto de Nossa Senhora", e entre o povo com o título de "Nossa Senhora do Ó". Os dois nomes têm o mesmo significado e objetivo: os anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. Anelos de milhares e milhares de gerações que suspiraram pela vinda do Salvador do mundo, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria, como no mais puro e limpo dos espelhos. A Expectação (expectativa) do parto não é simplesmente a ansiedade, natural na mãe jovem que espera o seu primogênito; é o desejo inspirado e sobrenatural da "bendita entre as mulheres", que foi escolhida para Mãe Virgem do Redentor dos homens, para corredentora da humanidade. Ao esperar o seu Filho, Nossa Senhora ultrapassa os ímpetos afetivos de uma mãe comum e eleva-se ao plano universal da Economia Divina da Salvação do mundo.

imagem portuguesa - séc. XVI
Lisboa, Museu das Janelas Verdes

As antífonas maiores que põe a Igreja nos lábios dos seus sacerdotes desde hoje até a Véspera do Natal e começam sempre pela interjeição exclamativa Ó ("Ó Sabedoria... vinde ensinar-nos o caminho da salvação"; "Ó rebento da Raiz de Jessé... vinde libertar-nos, não tardeis mais"; "Ó Emanuel..., vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus"), como expoente altíssimo do fervor e ardentes desejos da Igreja, que suspira pela vinda de Jesus, inspiraram ao povo espanhol a formosa invocação de "Nossa Senhora do Ó". É ideia grande e inspirada: a Mãe de Deus, posta à frente da imensa caravana da humanidade, peregrina pelo deserto da vida, que levanta os braços suplicantes e abre o coração enternecido, para pedir ao céu que lhe envie o Justo, o Redentor. 
Capela de N. Sra. do Ó - Sabará

A festa de Nossa Senhora do Ó foi instituída no século VI pelo décimo Concílio de Toledo, ilustre na História da Igreja pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de Potâmio, Bispo bracarense, pela leitura do testamento de São Martinho de Dume e pela presença simultânea de três santos de origem espanhola: Santo Eugênio III de Toledo, São Frutuoso de Braga e o então abade Santo Ildefonso.

sábado, 17 de dezembro de 2011

17 de dezembro - São Lázaro

Giuseppe Salviati - 1545


São Lázaro teve a sorte de ser o protagonista de um dos milagres mais impressionantes de Jesus Cristo, já que foi ressuscitado pelo Senhor depois de quatro dias de haver falecido.
Segundo as Sagradas Escrituras, Lázaro adoeceu gravemente e duas de suas irmãs Marta e Maria enviaram com urgência um mensageiro ao lugar onde se encontrava Jesus com a seguinte mensagem: "Aquele a quem Você ama, está doente". O santo falece e após o quarto dia chegou o Senhor. As duas irmãs saem ao encontro de Jesus em meio de lágrimas e soluços lhe dizendo: "Oh, Senhor se tivesse estado aqui! Se tivesse ouvido como te chamava Lázaro! Só uma palavra tinha em seus lábios: 'Jesus'. Não tinha outra palavra em sua boca. Chamava-te em sua agonia. Desejava tanto ver-te! Oh Senhor: se tivesse estado aqui não haveria morrido nosso irmão".
Van Gogh - 1889
Jesus responde: - "Eu sou a ressurreição e a Vida. Os que acreditam em Mim, não morrerão para sempre". Jesus, ao vê-las chorar se comoveu e também chorou. Nosso Redentor verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sentiu também a dor diante da morte de um ser querido. Os judeus que estavam ali em grande número, exclamaram: "Olhem quanto o amava!". Jesus disse: Lázaro, eu te mando, saia! E Lázaro se levantou. depois de quatro dias morto, foi ressuscitado milagrosamente e visto pela multidão que contemplou o fato.

Cássio M'Boi - séc. XX
Capela de São Lázaro de Embú das Artes, SP

16 de Dezembro - Santa Adelaide (Imperatriz)




Adelaide de Itália ou Adelaide de Borgonha ou simplesmente Santa Adelaide (931 - 16 de Dezembro de 999) nasceu na Borgonha, no ano de 931. Era filha de Rodolfo II da Borgonha e foi esposa de Lotário II, da Itália. Enviuvado 3 anos mais tarde, casou posteriormente no ano de 951 com o Imperador Oto I, o Grande do Sacro Império Romano Germânico, que assim obteve o direito à coroa da Itália. Órfã aos seis anos e viúva aos dezenove, foi, por interesses políticos, perseguida e aprisionada pelo Duque Berengário e sua mulher Wila, sujeitando-se a esta situação indigna com resignação e confiança em Deus. Com a ajuda do piedoso capelão Martinho consegue escapar e escoltada pelo Margrave Apo se refugia no castelo do Duque de Canossa, Alberto Uzzo. Oto I, o homem mais poderoso daquele tempo invade a Itália e afugenta Berengário. Dirigindo-se a Canossa, casou-se com Adelaide no dia de Natal de 951, resultando daí uma união feliz. Elevada à dignidade imperial, demonstrou imensa humildade e caridade para com os menos favorecidos. Viúva pela segunda vez, tornou-se regente até a maioridade do filho, o imperador Oto II, que em 971 casou-se com a princesa grega Teofânia, que também passou a hostilizar Adelaide. Morto Oto II, Adelaide se retira da corte, mas logo também Teofânia morre e Adelaide retorna para ser regente em nome de seu neto Oto III, coordenando suas obrigações políticas e religiosas. Partindo do princípio que a "felicidade e a prosperidade de uma nação depende da bênção de Deus", procurou implantar à todo custo na alma do povo o "santo" temor de Deus, fazendo empenho para que fosse conservados fielmente os "costumes e usos da vida cristã" de forma severa. Após a morte do seu marido, em 973, começou a interessar-se cada vez mais à vida de missionária e estabeleceu vários mosteiros e igrejas.
Recolhendo-se ao mosteiro beneditino de  Selz, o qual fundara, passou os últimos anos de vida em recolhimento. Morreu na Alsácia, no dia 16 de Dezembro de 999 e canonizada no ano de 1097.
Adelaide está incluída no elenco das “Grandes mulheres na História do Mundo- primeiro milênio”. Exemplo considerado pelos cristãos de princesa, rainha, imperatriz e mãe, sua vida é um alegado "exemplo" para as mães de família. Santo Odilon de Cluny, seu biógrafo, nos informa, sem apresentar provas, que: “ no seio da família mostrava soberana amabilidade, no trato com estranhos era de uma fidalguia prudente e reservada. Mãe dos pobres, era protetora das instituições eclesiásticas e religiosas. Boa e humilde para os bons, era severa em castigar os maus e os ímpios. Humilde na prosperidade, era paciente e conformada na adversidade; sóbria e modesta no comer e vestir; constante na prática dos exercícios de piedade, penitência e caridade, era o modelo de uma perfeita cristã. Colocada sobre o trono, o orgulho não lhe tomou posse do coração e das virtudes nenhum reclame fez. A lembrança dos pecados não a entregou ao desânimo ou ao desespero., como também os bens deste mundo. Honra, magnificência e glória não conseguiram perturbar-lhe a paz da alma, pois em tudo se baseava sobre o fundamento de toda santidade: a humildade. Firme na fé, era imperturbável sua esperança”. Intitulava-se “Adelaide, por graça de Deus Imperatriz, e por si mesma pobre pecadora e deficiente serva de Deus.

15 de Dezembro - Santa Virginia Centurione Bracelli (Fundadora)


Virgínia, riquíssima, filha de um doge da República de Gênova, nasceu em 2 de abril de 1587. O pai, Jorge Centurioni, era um conselheiro da República. A mãe, Leila Spinola, era uma dama da sociedade, católica fervorosa e atuante nas obras de caridade aos pobres. Propiciou à filha uma infância reservada, pia e voltada para os estudos. Mesmo com vocação para a vida religiosa, Virgínia teve de casar, aos quinze anos, por vontade paterna, com Gaspar Grimaldi Bracelli, nobre também muito rico. Teve duas filhas, Leila e Isabela. Esposa dedicada, cuidou do marido na longa enfermidade que o acometeu, a tuberculose. Levou-o, mesmo, para a Alexandria, em busca da cura para a doença, o que não aconteceu. Gaspar morreu em 1607, feliz por sempre ter sido assistido por ela. 
Ficou viúva aos vinte anos de idade. Assim, jovem, entendeu o fato como um chamado direto de Deus. Era vontade de Deus que ela o servisse através dos mais pobres. Por isso conciliou os seus deveres do lar, de mãe e de administradora com essa sua particular motivação. O objeto de sua atenção, e depois sua principal atividade, era a organização de uma rede completa de serviços de assistência social aos marginalizados. O intuito era que não tivessem qualquer possibilidade de ofender a Deus, dando-lhes condições para o trabalho e o sustento com suas próprias mãos. 
Desenvolvia e promovia as "Obras das Paróquias Pobres" das regiões rurais conseguindo doações em dinheiro e roupas. Mais tarde, com as duas filhas já casadas, passou a dedicar-se, também, ao atendimento dos menores carentes abandonados, dos idosos e dos doentes. Fundou uma escola de treinamento profissional para os jovens pobres. Numa fria noite de inverno, quando à sua porta bateu uma menina abandonada pedindo acolhida, sentiu uma grande inspiração, que só pôs em prática após alguns anos de amadurecimento.
Finalmente, em 1626, doou todos os seus bens aos pobres, fundou as "Cem Damas da Misericórdia, Protetoras dos Pobres de Jesus Cristo" e entrou para a vida religiosa. Enquanto explicava o catecismo às crianças, pregava o Evangelho. As inúmeras obras fundadas encontravam um ponto de encontro nas chamadas "Obras de Nossa Senhora do Refúgio", que instalou num velho convento do monte Calvário. Logo o local ficou pequeno para as "filhas" com hábito e as "filhas" sem hábito, todas financiadas pelas ricas famílias genovesas. Ela, então, fundou outra Casa, depois mais outra e, assim, elas se multiplicaram.
A sua atividade era incrível, só explicável pela fé e total confiança em Deus. Virgínia foi uma grande mística, mas diferente; agraciada com dons especiais, como êxtases, visões, conversas interiores, assimilava as mensagens divinas e as concretizava em obras assistenciais. No seu legado, não incluiu obras escritas. Morreu no dia 15 de dezembro de 1651, com sessenta e quatro anos de idade, com fama de santidade, na Casa-mãe de Carignano, em Gênova. A devoção aumentou em 1801, quando seu túmulo foi aberto e seu corpo encontrado intacto, como se estivesse apenas dormindo. Reavivada a fé, as graças por sua intercessão intensificaram-se em todo o mundo. 
Duas congregações distintas e paralelas caminham pelo mundo, projetando o carisma de sua fundadora: a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário, com sede em Gênova; e a Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário, com sede em Roma. 
corpo incorrupto da santa venerado em Gênova

Virgínia foi beatificada em 1985. O mesmo papa que a beatificou, João Paulo II, declarou-a santa em 2003. O seu corpo é venerado na capela da Casa-mãe da Congregação, em Gênova, com uma festa especial no dia de sua morte. Mas suas "irmãs" e "filhas" também a homenageiam no dia 7 de maio, data em que santa Virgínia Centurione Bracelli vestiu hábito religioso

14 de Dezembro - São João da Cruz (Doutor da Igreja)

Anônimo emiliano - séc. XVII
coleção particular


São João da Cruz foi um dos santos mais desconcertantes e ao mesmo tempo mais transparentes da mística moderna. Grande mestre da vida espiritual, transformou todas as cruzes em meios de santificação para si e para os irmãos.
Três coisas pediu e acabou recebendo de Deus: primeiro, dar-lhe força para trabalhar e sofrer muito; segundo: não o fazer sair deste mundo como superior de uma comunidade; e terceiro: deixá-lo morrer desprezado e escarnecido pelos homens. Pregador, místico, escritor e poeta, João da Cruz faleceu após uma penosíssima enfermidade, em 1591 com 49 anos de idade e o Papa Pio XI o declarou Doutor da Igreja.
gravura em metal - séc. XVII

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

13 de Dezembro - Santa Luzia (Virgem e mártir)



Santa Luzia (ou Santa Lúcia), cujo nome deriva do latim, é muito amada e invocada como a protetora dos olhos, janela da alma, canal de luz.
Conta-se que Luzia, pertencia a uma família italiana e rica, que lhe deu ótima formação cristã, ao ponto de ter feito um voto de viver a virgindade perpétua. Com a morte do pai, Luzia soube que sua mãe queria vê-la casada com um jovem de distinta família, porém pagão. Ao pedir um tempo para o discernimento foi para uma romaria ao túmulo da mártir Santa Ágata, de onde voltou com a certeza da vontade de Deus quanto à virgindade e quanto aos sofrimento pelo qual passaria, como Santa Ágata.

Vendeu tudo, doou aos pobres os resultados da venda de seus bens materiais, e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa por estes atos. Este jovem a partir de então passa a realizar inúmeras acusações indevidas à Luzia afim de expressar seu desejos mais íntimos e escusos de dinheiro, bens materiais e casamento. Luzia nunca se rendeu a estes comentários e pressões. Seguiu em sua vida material firme e fiel a seus propósitos de vida, e como reflexo, não querendo oferecer sacrifício aos deuses e nem quebrar o seu santo voto, teve que enfrentar as autoridades perseguidoras e até a sua decapitação em 303, para assim testemunhar com a vida, ou morte o que disse: “Adoro a um só Deus verdadeiro, e a ele prometi amor e fidelidade”.
Paqualino Rossi - séc. XVII
Catedral de Serra San Quirico, Itália

Somente em 1894 o martírio da jovem Luzia, também chamada Lúcia, foi devidamente confirmado, quando se descobriu uma inscrição escrita em grego antigo sobre o seu sepulcro, em Siracusa, Ilha da Sicília. A inscrição trazia o nome da mártir e confirmava a tradição oral cristã sobre sua morte no início do século IV.
Mas a devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão (“Luzia” deriva de “luz”), já era exaltada desde o século V. Além disso, o papa Gregório Magno, passado mais um século, a incluiu com todo respeito para ser citada no cânone da missa. Os milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram numa das santas auxiliadoras da população, que a invocam, principalmente, nas orações para obter cura nas doenças dos olhos ou da cegueira, e até mesmo para se obter a adequada e madura visão da vida, da família, e até nos negócios.
Diz a antiga tradição oral que essa proteção, pedida a Santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a renegar a fé em Cristo.


Pietro Rizzi - 1590
Simulacro da santa venerado em Siracusa


A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã através da pintura e da literatura. Foi enaltecida por Dante Alighieri, na “Divina Comédia”, que atribuiu a Santa Luzia a função da graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje.
Para proteger as relíquias de Santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária.
Santa Luzia é celebrada no dia 13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês de maio também.