Hipólito de Roma foi o mais importante teólogo do século III d.C. da Igreja antiga de Roma, onde ele provavelmente nasceu. Fócio o descreveu em sua Bibliotheca (cód. 121) como sendo um discípulo de Ireneu, que acredita-se ter sido discípulo de Policarpo e, pelo contexto da passagem, supõe-se que o próprio Hipólito assim se considerava. Ele se opôs aos bispos de Roma que afrouxaram as regras de penitência para acomodarem um grande número de novos convertidos da religião pagã. Porém, muito provavelmente ele já estava reconciliado com a Igreja quando morreu como mártir.
Marchetaria na Catedral de Orvieto, séc.XIV
À partir do século IV d.C., várias lendas surgiram sobre ele, identificando-o como um padre do cisma novaciano ou um soldado convertido por São Lourenço. Ele também é muitas vezes confundido com um mártir de mesmo nome.
Como um presbítero da Igreja em Roma sob o Papa Zeferino (199 - 217 d.C.), Hipólito se destacou por sua erudição e eloquência. Foi nesta época que Orígenes, então um jovem, o ouviu pregar.Ele acusou o Papa Zeferino de modalismo, a heresia que ensinava que Pai e Filho eram apenas nomes diferentes para o mesmo sujeito. Hipólito, por sua vez, defendia a doutrina do Logos dos apologistas gregos, que distinguia o Pai do Logos ("Verbo"). Um conservador do ponto de vista ético, ele se escandalizou quando o Papa Calisto I (217 - 222 d.C.) estendeu a absolvição aos cristãos que tinham cometidos pecados graves, como o adultério. Foi nesta época que é possível que ele tenha se permitido ser eleito como um rival do bispo de Roma, além de continuar atacando os papas Urbano I (222 - 230 d.C.) e Ponciano (230 - 235 d.C.).
Ícone russo
Hipólito e seu grupo entraram em conflito com o Papa Calisto I (217-220), por pensar que o novo Pontífice, ao relaxar a legislação demasiado dura sobre o casamento e a penitência, estava abandonando a tradição católica. Justificando, com este motivo, sua posição irredutível, Hipólito escreveu o tratado sobre A Tradição Apostólica, fonte de primeira importância, para conhecermos a Igreja de seu tempo. Queixou-se também, de Calisto, de que tivesse este papa sendo condescendente quanto ao fato de se cometer um pecado mortal, não ser razão suficiente para depor um bispo, como alegava o contrário a Hipólito. Reclamava também, do fato que o Papa tivesse admitido às ordens a quem se tinha casado duas ou três vezes e que tivesse reconhecido a legitimidade dos matrimônios entre os escravos e mulheres livres, o que estava proibido pela lei civil. Combateu as mais variadas heresias, e foi grande defensor da sã doutrina e disciplina.
Anônimo, 1515
Sttatliche Kunstsammlingen - Dresden
Hipólito era um homem pouco dado ao perdão. E suas atitudes pouco conciliatórias só poderiam causar problemas no seio da Igreja. Suas “implicâncias” eram tão “ferozes”, suas críticas tão “ácidas”, seu palavreado tão propenso à discussão, que começaram a “minar” a autoridade papal com grandes recriminações que atingiam com francas e amplas censuras diretamente ao papa Zeferino, por ser, em sua opinião, não suficientemente preparado para detectar e denunciar a heresia. Por ocasião da escolha de São Calisto I, ele interrompeu as relações com a Igreja de Roma, e, reunindo seus inúmeros seguidores, consentiu ser ordenado Bispo de Óstia, e em ser colocado como antipapa; opositor ao Papa, fundando uma igreja própria, arrastando no cisma parte do clero e do povo de Roma. Sua postura intransigente, acrescentando-se suas divergências pessoais de oposição, e, a não disfarçada inveja, porque Calisto fora o preferido pelo clero a ele como sucessor do Papa Zeferino, fizeram nascer um cisma que durou vinte anos, e, continuou durante o pontificado de Ponciano, que contudo conseguiu, com a sua magnanimidade reconduzir Hipólito e o seu grupo à unidade da Igreja.
Miniatura medieval, sem data
Na perseguição aos cristãos do imperador Maximino Trácio, Hipólito e Ponciano foram exilados juntos em 235 d.C. para a Sardenha e é muito provável que lá, antes de sua morte, ele tenha se reconciliado com seus adversários em Roma, pois já sob o Papa Fabiano (236 - 250 d.C.) seu corpo e o de Ponciano foram trazidos para Roma. Pelo Catalogus Liberianus é possível verificar que em 13 de agosto, provavelmente de 236 d.C., eles foram enterrados em Roma, sendo Hipólito no cemitério na Via Tiburtina e Ponciano nas Catacumbas de São Calisto. Este documento também indica que, por volta de 255 d.C., Hipólito já era considerado um mártir cristão e lhe atribui a posição de padre e não a de bispo, mais uma indicação de que antes de sua morte ele já tinha sido recebido novamente no seio da Igreja.
Martírio de Santo Hipólito
Anônimo - Museu de Belas Artes de Boston
Santo Hipólito foi um dos maiores e mais destacados escritores da Igreja de Roma dos primeiros séculos. Pode muito bem ser comparado a Clemente de Alexandria ou Orígenes. Grande parte de seus escritos foram redigidos em grego, e, pelo fato de adotar esta língua (ele a escolheu, porque era uma língua mais difundida na época do que o latim), contribuiu para que a sua memória ficasse bastante diminuída até obscurecer-se quase por completo ao latinizar-se a Igreja ocidental a partir do século IV. São Jerônimo o chamava de o “homem mais santo e eloqüente”. Os extensos escritos de Hipólito, que pela variedade de assuntos podem ser comparados aos de Orígenes, abarcam as esferas da exegese, homilética, apologética e polêmica, cronografia e direito canônico. Hipólito preservou também a primeira liturgia conhecida sobre a Virgem Maria, como parte da cerimônia de ordenação de um bispo.
Martírio de Santo Hipólito
Dirk Bouts - 1480
Museu de São Salvador - Bruges
Fonte: Wikipédia
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