Menológio russo do mês de setembro
Moscou - séc. XIX
O culto aos santos é comum entre os católicos e os ortodoxos, culto esse, vivido na Igreja "una" do primeiro milênio e perpetuado até os nossos dias, nos quais de uma e de outra parte continuam acontecendo as canonizações, infelizmente, por enquanto, sem o recíproco reconhecimento.
Não podemos falar em Ano Litúrgico sem indicar os santos celebrados a cada dia: por isso nos propomos elencá-los, mês por mês, apresentando os nomes geralmente mais celebrados. Evidentemente existem comemorações locais, quiçá de um grande santo festejado em toda uma nação. Como exemplo, mencionamos, na área bizantina, Santa Nina, a Iluminadora (séc. IV), celebrada pela Igreja da Geórgia em 14 de janeiro; São João de Rila (†946), celebrado pela Igreja da Bulgária em 19 de outubro; o santo arcebispo Sava (†1235), celebrado pela Igreja da Sérvia em 12 de janeiro; os vários "Novos mártires" gregos durante a opressão otomana.
Confrontando um calendário latino com um bizantino, podemos constatar quão numerosos são os santos inscritos em ambos e, com freqüência, celebrados na mesma data. Outros, porém, têm datas diferentes, por vezes próximas (para os católicos, por exemplo, São Basílio Magno é festejado no dia 2 de janeiro e Santo Estevão, mártir em 26 de dezembro, já os ortodoxos os celebram, respectivamente, no dia 1º de janeiro e em 27 de dezembro), por vezes em datas bem distanciadas (por exemplo, o Arcanjo São Miguel no Ocidente é celebrado em 29 de setembro e no Oriente em 8 de novembro).
Dos quatro evangelistas, Marcos (25 de abril) e Lucas (18 de outubro) têm datas iguais, para os outros dois já as datas diferem. Os santos do Antigo Testamento são mais numerosos no calendário oriental; lembramos os profetas comemorados em dezembro: no dia 1º, São Naum, no dia 2, Santo Habacuc, no dia 3, São Sofonias, no dia 16, Santo Ageu, no dia 17, São Daniel e os três Jovens, enquanto o Santo Jó, o justo, é celebrado no dia 6 de maio e São Moisés, profeta, no dia 4 de setembro. A mesma coisa pode-se afirmar dos mártires, dos quais, de alguns, se conhece quase somente o nome e a época provável da morte; mas o Oriente bizantino gosta de apresentá-los qual exemplo de generoso testemunho no oferecimento a Deus de suas vidas. Outras categorias de santos são iguais nos dois calendários: apóstolos, bispos, confessores, virgens, santas mulheres. Além dessas categorias, na tradição constantinopolitana costuma-se celebrar os grupos dos santos iconógrafos, dos santos "loucos por Cristo" dos "anárgiros" (que curavam os doentes gratuitamente), ou então grupos de santos com os nomes compostos: "ieromártir" é o sacerdote que foi martirizado por amor a Cristo. O mesmo termo "santo" possui uma forma dúplice: a mais comum, no grego é ágios e no eslavo é sviatyi, mas para os monjes e/ou religiosos(as) usa-se, no grego, a palavra hósios e no eslavo prepodóbnyi, isto é, "muito semelhante," ao Cristo, bem entendido.
Nas páginas que se seguem para cada mês, após a lista dos nomes dos santos de cada dia, nos deteremos sobre uma ou duas datas para tornar um pouco conhecidos os textos do Ofício do dia. São todos santos do primeiro milênio, de tipos variados, bem conhecidos também no Ocidente: são homens e mulheres, mártires e bispos, celebrados individualmente ou em grupo... A apresentação fornecida pelos livros litúrgicos bizantinos, as orações a eles dirigidas porão mais uma vez em evidência a complementaridade das duas tradições — oriental e ocidental — e a riqueza espiritual da qual desfrutamos ao tê-las ambas presentes.
"Os santos são os nossos intercessores e protetores no céu e portanto membros vivos e ativos da nossa Igreja. A presença de graça deles na Igreja, visível também através dos ícones e das relíquias, nos envolve como uma nuvem orante da glória de Deus. Os santos não nos separam do Cristo, mas nos aproximam dele, a ele nos unem; não são -como os protestantes pensam — os mediadores entre Deus e os homens que ofuscam o único Mediador Jesus Cristo; eles são suplicantes conosco, são os nossos amigos e ajudantes no nosso serviço a Cristo e na nossa união com ele."
Quem escreveu a citação acima é um teólogo ortodoxo, mas é também a convicção dos católicos. Por isso, juntos continuamos a cultuar os santos e esse culto faz com que se crie um ambiente de família nas nossas assembléias litúrgicas: são irmãos e irmãs que nos precederam na fidelidade total a Cristo, que nos aguardam no Reino celestial e que podemos invocar também para o restabelecimento da unidade eclesial entre nós na sua plenitude.
No calendário bizantino, como no romano, além dos santos estão indicadas também as celebrações do Cristo e da Virgem que, mesmo não pertencendo às Doze grandes festas, são festas de notável importância, como por exemplo: a Circuncisão de Cristo do 1º de janeiro ou a Concepção de Maria Santíssima por parte de Ana no dia 9 de dezembro. Mormente no calendário eslavo são inúmeras as festas ligadas a ícones marianos (só a "Mãe de Deus de Vladimir" é celebrada três vezes: 21 de maio, 23 de junho e 26 de agosto). Os santos, porém, são a grande maioria e a eles são reservados os textos ilustrativos mês por mês.
Merecem ser assinaladas as festas de Todos os Santos de uma nação ou de uma região que nos últimos anos foram multiplicando-se entre os ortodoxos. No segundo domingo depois da Páscoa — sucessiva, pois, à festa universal de Todos os Santos -, no monte Athos se celebram os santos monges que ali alcançaram a máxima perfeição cristã e na Rússia se celebram "todos os santos que floreceram na terra russa," dia significativamente escolhido em 1988 ao concluir as celebrações do Milênio do Batismo da Rus'.
O Menológio ou Santoral tem seu início, como já dito, no dia 12 de setembro e o próprio de cada mês é contido no Minéon, o livro litúrgico das celebrações com data fixa.
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